Texto retirado do blog Brucutu, em que o amigo Chico analisa este clássico atemporal.
Father and Son foi escrita pelo Cat Stevens, cantor que acabou virou mulçumano e todo mundo conhece essa história. Se não conhece procura no google. Desde que vi uma propaganda com essa música eu não paro de ouvi-la. É linda. Dizem que o Cat Stevens pensou na seguinte situação pra escrever a letra: uma discussão entre um pai e um filho na revolução russa, o filho queria lutar e o pai queria demove-lo da idéia. Se foi isso, não sei, só sei que a letra é universal. É linda. Repara só:
It's not time to make a change,
Just relax, take it easy.
You're still young, that's your fault,
There's so much you have to know.
Find a girl, settle down,
If you want you can marry.
Look at me, I am old, but I'm happy.
Sei que você, leitor do meu blog, lê inglês, mas repara na dica-mor, no conselho supremo que os pais dão: Não é hora de mundanças, relaxe, vá devagar. O pai dá um conselho muito tenro pra depois "atacar" o filho como só os pais conseguem fazer: você ainda é novo e isso é culpa sua. O jovem não tem culpa de ser jovem! Essa é uma daquelas típicas respostas "porque sim" dos pais e talvez até uma mágoa pela juventude perdida do pai. Logo depois ele vem com aquela que sei mais do que você mas com um tom de voz lindo, expressando todo o amor que consegue: você ainda tem muito que aprender. Depois dos conselhos paternais ele parte pro desejo pessoal dele: ache uma garota e descanse e ainda emenda uma "se você quiser, pode se casar". Tipo, ele sabe que os tempos mudaram, são diferentes e não quer forçar o filho a se casar só por casar. Aí vai a frase mais linda: "olhe pra mim, eu sou velho, mas sou feliz". Ela parece remeter à um outro mundo de tão linda que é, de tão fora da realidade que parece. Hoje parece que a sociedade ignora seus velhos, seus pais e há sempre um esforço por integrá-los, esforço que me parece forçado demais. Eles não querem atividades voltadas para a "melhor idade", como andam chamando os velhos, mas só atenção e respeito. As pessoas tem cabeça muito pequena. O cara já viveu demais e sabe muito mais que a gente, então para e ouça-os porra. Nada de pesquisa, nada de entrevistas, ouça-os, caralho.
I was once like you are now, and I know that it’s not easy,
To be calm when you’ve found something going on.
But take your time, think a lot,
Why, think of everything you’ve got.
For you will still be here tomorrow, but your dreams may not.
Aí na segunda estrofe o pai começa com aquele papo que teve a nossa idade e sei o que está acontecendo: eu já fui como você, e sei que não é fácil ficar calmo quando você descobre que algo está rolando. Fala da ansiedade da juventude, do fogo que ela tem que não consegue parar quieta e quer mudar o mundo mas aí diz "acalme-se, pense a respeito, pense no porquê e em tudo que você tem" tentando incutir um pouco da responsabilidade no garoto, coisa que a juventude tem tão pouca. E encerra com a ótima frase: pense direito, porque você vai estar aqui amanhã mas seus sonhos podem não estar. Ele sabe de como a gente move montanhas por um sonho ou um devaneio que a gente tem e acho que dessa vez é definitiva, que tem certeza absoluta do que estão rolando quando não é bem assim. Mas essa é a graça da juventude: não saber de nada e achar que sabe tudo.
How can I try to explain, when I do he turns away again.
It’s always been the same, same old story.
From the moment I could talk I was ordered to listen.
Now there’s a way and I know that I have to go away.
I know I have to go.
Agora é a vez do filho falar. Cat Stevens coloca raiva e angústia na voz, que contrasta com a serenidade da voz do pai. O filho começa com a reclamação de todo filho "como eu posso explicar o que estou passando se ele não me ouve?" e emenda "é sempre a mesma coisa, a mesma história sempre". É a reclamação-padrão dos filhos. Eu já gritei várias vezes aqui em casa com meus pais que eles não ouvem o que eu digo e não ouvem mesmo, parece que entra por um ouvido e sai do outro. Aí na música vem uma imagem linda dita pelo filho: "desde que eu aprendi a falar eles só querem que eu ouça o que ELES dizem". Lindo. Nunca tinha pensado nisso. A criança demora pra aprender a falar, aprender a escrever mas de nada serve, sua voz não é ouvida, sua opinião é ignorada. Deve ser uma frustração incrível. Então parte pro filho querendo seguir o próprio caminho que é onde ele acha que pode ser ouvido: agora encontrei o meu caminho e sei que tenho que ir embora. Eu sei que tenho que ir embora. E essa última frase remetendo à última do pai, da estrofe acima.
It’s not time to make a change,
Just sit down, take it slowly.
You’re still young, that’s your fault,
There’s so much you have to go through.
Find a girl, settle down,
If you want you can marry.
Look at me, I am old, but I’m happy.
(son-- away away away, I know I have to
Make this decision alone - no)
O pai repete exatamente o que disse, sem pôr palavra e nem tirar. Pai sempre fala a mesma coisa mesmo. Cat Stevens é foda. E no fundo um coro mostrando que o filho não quer nem saber que já tomou sua decisão e nem ouve mais o pai.
All the times that I cried, keeping all the things I knew inside,
It’s hard, but it’s harder to ignore it.
If they were right, I’d agree, but it’s them you know not me.
Now there’s a way and I know that I have to go away.
I know I have to go.
(father-- stay stay stay, why must you go and
Make this decision alone? )
"Todas as vezes que eu chorei e guardei as coisas pra mim mesmo, é difícil, mas é mais difícil ainda ignorar o que eu sinto". O filho dá uma lição a todo mundo hoje em dia, pois ele chora, mas sabe exatamente porque tá chorando e que não é bom ignorar o que sente. É um garoto forte e sabe o que quer, ao contrário de muita gente hoje em dia. É a própria voz que ele guarda pra si mesmo. Ele então tenta explicar porque tem que ir embora ao dizer que "se eles estivessem certo eu concordaria com eles, mas não, a culpa é deles". O filho já tá de cabeça feita e na hora que a música toca "it's them you know not me" há uma leve quebrada do ritmo com o violão. Foda. Lindo. O filho tá rompendo com os pais e rompeu o ritmo da música com sua raiva. Aí repete a o que já disse, que já achou o próprio caminho e tem que ir embora. E no fundo você ouve coro representando o pai suplicando pro filho ficar e diz que ele não precisa ir embora e tomar todas as decisões sozinho, que isso é muito difícil, é peso demais para alguém carregar por si só.
Música foda. Linda. Fui no último churrasco oficial da minha faculdade hoje, pois me formo no final do ano. É hora d'eu tomar o meu caminho. Fiquei pensando muito sobre essa música hoje. (...)
Texto: Chico.
domingo, outubro 01, 2006
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